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quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Sem vagas na cela, delegacia improvisa área para presos

A superlotação na Delegacia de Plantão zona Sul só faz piorar. Há menos de 15 dias a reportagem da TRIBUNA DO NORTE esteve no local e flagrou dois presos algemados em uma área aberta, chamada pelos agentes de solário. Ontem, a reportagem voltou ao local e ao invés de dois, estavam detidos nessa área 21 presos, além dos 32 que se espremiam em uma cela onde deveriam estar apenas 10 detentos.    
Adriano AbreuReportagem do dia 24 de agosto mostrava dois presos no solário ...Reportagem do dia 24 de agosto mostrava dois presos no solário ...

A Delegacia de Plantão da zona Sul é o reflexo do sistema penitenciário do Rio Grande do Norte. Há hoje uma demanda reprimida de 4 mil vagas, o que explica a superlotação em todas as unidades prisionais da Grande Natal e na maioria daquelas situadas no interior do Rio Grande do Norte. A informação tem como fonte o titular da Coordenadoria de Administração Penitenciária Estadual, José Olímpio da Silva, que revelou existirem em todo o RN 5.767 presos se espremendo em apenas 2085 vagas disponibilizadas pelo setor.

"Está tudo lotado e a tendência é piorar enquanto novas vagas não forem criadas com a construção de outras unidades e o fim das obras naquelas que foram iniciadas", prevê o agente penitenciário. Dentre aqueles que surgem como bálsamo para a ferida social que se tornou a superlotação de cadeias públicas, presídios e centros de detenção provisória, estão o prédio da antiga  Delegacia Especializada na Defesa da Propriedade de Veículos e Cargas (Deprov), na zona Norte da capital, que vem sendo preparado para receber 100 presos provisórios. O novo pavilhão de Alcaçuz cuja estrutura deve permitir a absorção de mais 402 presos condenados deve, à curto prazo, ser um paliativo para o problema mencionado.

A situação apresentada por Olímpio na ponta do lápis, é assustadora. Somente nos Centros de Detenção Provisória da Grande Natal existem hoje 874 pessoas em conflito com a lei à espera de julgamento, quando o limite de vagas corresponde a 355 lugares. 

Delegacias

Não há solução em curto prazo anunciada. Na manhã desta quarta-feira (07) a delegacia de Plantão da zona Sul tinha 53 presos custodiados entre uma cela na qual estavam 32 presos - espaço onde caberiam apenas 10 pessoas - e o solário, no qual 21 homens esperavam por uma decisão judicial que determinasse um novo endereço. A situação da DP é precária há vários meses. A TRIBUNA DO NORTE já publicou várias reportagens mostrando detentos presos a motocicletas ou em corredores por falta de vagas. E nesse período ,a situação só piora. 

Mesmo diante do desconforto e risco, aqueles profissionais que lidam diretamente com tal cenário - os policiais civis em desvio de conduta, uma vez que alguns atuam como agentes penitenciários - aceitam falar sobre o assunto sob a condição de ter a identidade preservada. Um agente da polícia Civil relata que a presença dos detentos no local prejudica o serviço prestado a população, uma vez que a atenção dos que ali permanecem em serviço tem de ser dividida entre presos e os que buscam a delegacia. "Isso aqui é uma bomba relógio prestes a explodir", ilustrou o APC.
Alex Régis...ontem, por falta de espaço na cela, 21 homens dividiam o espaço...ontem, por falta de espaço na cela, 21 homens dividiam o espaço

Sobre o tempo de permanência daqueles que "repousam" naquela carceragem, o policial admitiu que alguns chegam a passar mais de 30 dias à espera do recambiamento para uma unidade prisional.

Já na delegacia de Plantão da zona Norte, mesmo havendo uma relativa superlotação - considerando que o "xadrez"  comporta no máximo duas pessoas e 10 estão alojadas -, o delegado que estava de serviço, Jairo Maia, afirma que a situação não é das piores, uma vez que a permanência deles não é prolongada. "Constantemente os presos são transferidos para outros locais. E a entrada de preso aqui é sinal de que a polícia está trabalhando. Nossa parte está sendo feita. Agora, precisa que existam vagas para esse pessoal", avaliou. "O ideal seria uns 10 agentes para a gente fazer um serviço de qualidade", avaliou o DPC.

Precariedade preocupa familiares 

Policiais e presos não são os únicos personagens que parecem viver em constante corda bamba. Neste espetáculo, os familiares também expressam a dificuldade de lidar com a permanência de seus entes queridos em ambientes inadequados.  Na delegacia de Plantão ZS, a doméstica de 53 anos conta o martírio pelo qual tem passado desde que, há duas semanas, Marco da Silva Santos, 34, foi preso acusado de depredação de patrimônio. 

Segundo ela, o filho é doente mental e fazia alguns dias que não tomava o medicamento receitado. Aliado a falta do remédio, ele também ingeriu bebida alcoólica, fato que o teria levado a quebrar o vidro de um carro, no Alecrim. "Meu filho quebrou esse vidro porque o homem passou fazendo sinal feio pra ele com o dedo", narrava ela entre lágrimas expondo não ter os R$ 500 de fiança para garantir a liberação do parente. "E ele fica no meio dessa 'ruma' de homem. É um perigo muito grande", aponta a senhora.

Arma

Ainda na mesma unidade, quem também fala das dificuldades e temores pelos quais tem passado é a esposa de Alexandro Mathias, 23, preso em 2008 por porte ilegal de arma. "Ele ficou preso no CDP da Ribeira uns quatro meses, em 2008, e depois foi liberado. 

Mas ontem (06) ele se apresentou porque tinham mandado uns documentos e ele não tinha se apresentado ao Juiz. Mas nunca ficou claro que era pra ele ir de novo, porque nós não recebemos esse papel. O documento que eu tenho é dizendo que ele tá no regime semi-aberto", contou ela parte da história do esposo. A jovem disse ainda que o Alexandro é o provedor da família e que as duas filhas, uma de 11 meses e a outra com sete anos, estão sofrendo com a ausência do pai e do dinheiro que ele levava para casa.




http://tribunadonorte.com.br/noticia/sem-vagas-na-cela-delegacia-improvisa-area-para-presos/195142

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