A superlotação na Delegacia de Plantão zona Sul só faz piorar. Há menos de 15 dias a reportagem da TRIBUNA DO NORTE esteve no local e flagrou dois presos algemados em uma área aberta, chamada pelos agentes de solário. Ontem, a reportagem voltou ao local e ao invés de dois, estavam detidos nessa área 21 presos, além dos 32 que se espremiam em uma cela onde deveriam estar apenas 10 detentos.
A Delegacia de Plantão da zona Sul é o reflexo do sistema penitenciário do Rio Grande do Norte. Há hoje uma demanda reprimida de 4 mil vagas, o que explica a superlotação em todas as unidades prisionais da Grande Natal e na maioria daquelas situadas no interior do Rio Grande do Norte. A informação tem como fonte o titular da Coordenadoria de Administração Penitenciária Estadual, José Olímpio da Silva, que revelou existirem em todo o RN 5.767 presos se espremendo em apenas 2085 vagas disponibilizadas pelo setor.
"Está tudo lotado e a tendência é piorar enquanto novas vagas não forem criadas com a construção de outras unidades e o fim das obras naquelas que foram iniciadas", prevê o agente penitenciário. Dentre aqueles que surgem como bálsamo para a ferida social que se tornou a superlotação de cadeias públicas, presídios e centros de detenção provisória, estão o prédio da antiga Delegacia Especializada na Defesa da Propriedade de Veículos e Cargas (Deprov), na zona Norte da capital, que vem sendo preparado para receber 100 presos provisórios. O novo pavilhão de Alcaçuz cuja estrutura deve permitir a absorção de mais 402 presos condenados deve, à curto prazo, ser um paliativo para o problema mencionado.
A situação apresentada por Olímpio na ponta do lápis, é assustadora. Somente nos Centros de Detenção Provisória da Grande Natal existem hoje 874 pessoas em conflito com a lei à espera de julgamento, quando o limite de vagas corresponde a 355 lugares.
Delegacias
Não há solução em curto prazo anunciada. Na manhã desta quarta-feira (07) a delegacia de Plantão da zona Sul tinha 53 presos custodiados entre uma cela na qual estavam 32 presos - espaço onde caberiam apenas 10 pessoas - e o solário, no qual 21 homens esperavam por uma decisão judicial que determinasse um novo endereço. A situação da DP é precária há vários meses. A TRIBUNA DO NORTE já publicou várias reportagens mostrando detentos presos a motocicletas ou em corredores por falta de vagas. E nesse período ,a situação só piora.
Mesmo diante do desconforto e risco, aqueles profissionais que lidam diretamente com tal cenário - os policiais civis em desvio de conduta, uma vez que alguns atuam como agentes penitenciários - aceitam falar sobre o assunto sob a condição de ter a identidade preservada. Um agente da polícia Civil relata que a presença dos detentos no local prejudica o serviço prestado a população, uma vez que a atenção dos que ali permanecem em serviço tem de ser dividida entre presos e os que buscam a delegacia. "Isso aqui é uma bomba relógio prestes a explodir", ilustrou o APC.
Sobre o tempo de permanência daqueles que "repousam" naquela carceragem, o policial admitiu que alguns chegam a passar mais de 30 dias à espera do recambiamento para uma unidade prisional.
Já na delegacia de Plantão da zona Norte, mesmo havendo uma relativa superlotação - considerando que o "xadrez" comporta no máximo duas pessoas e 10 estão alojadas -, o delegado que estava de serviço, Jairo Maia, afirma que a situação não é das piores, uma vez que a permanência deles não é prolongada. "Constantemente os presos são transferidos para outros locais. E a entrada de preso aqui é sinal de que a polícia está trabalhando. Nossa parte está sendo feita. Agora, precisa que existam vagas para esse pessoal", avaliou. "O ideal seria uns 10 agentes para a gente fazer um serviço de qualidade", avaliou o DPC.
Precariedade preocupa familiares
Policiais e presos não são os únicos personagens que parecem viver em constante corda bamba. Neste espetáculo, os familiares também expressam a dificuldade de lidar com a permanência de seus entes queridos em ambientes inadequados. Na delegacia de Plantão ZS, a doméstica de 53 anos conta o martírio pelo qual tem passado desde que, há duas semanas, Marco da Silva Santos, 34, foi preso acusado de depredação de patrimônio.
Segundo ela, o filho é doente mental e fazia alguns dias que não tomava o medicamento receitado. Aliado a falta do remédio, ele também ingeriu bebida alcoólica, fato que o teria levado a quebrar o vidro de um carro, no Alecrim. "Meu filho quebrou esse vidro porque o homem passou fazendo sinal feio pra ele com o dedo", narrava ela entre lágrimas expondo não ter os R$ 500 de fiança para garantir a liberação do parente. "E ele fica no meio dessa 'ruma' de homem. É um perigo muito grande", aponta a senhora.
Arma
Ainda na mesma unidade, quem também fala das dificuldades e temores pelos quais tem passado é a esposa de Alexandro Mathias, 23, preso em 2008 por porte ilegal de arma. "Ele ficou preso no CDP da Ribeira uns quatro meses, em 2008, e depois foi liberado.
Mas ontem (06) ele se apresentou porque tinham mandado uns documentos e ele não tinha se apresentado ao Juiz. Mas nunca ficou claro que era pra ele ir de novo, porque nós não recebemos esse papel. O documento que eu tenho é dizendo que ele tá no regime semi-aberto", contou ela parte da história do esposo. A jovem disse ainda que o Alexandro é o provedor da família e que as duas filhas, uma de 11 meses e a outra com sete anos, estão sofrendo com a ausência do pai e do dinheiro que ele levava para casa.
http://tribunadonorte.com.br/noticia/sem-vagas-na-cela-delegacia-improvisa-area-para-presos/195142
Adriano AbreuReportagem do dia 24 de agosto mostrava dois presos no solário ...
A Delegacia de Plantão da zona Sul é o reflexo do sistema penitenciário do Rio Grande do Norte. Há hoje uma demanda reprimida de 4 mil vagas, o que explica a superlotação em todas as unidades prisionais da Grande Natal e na maioria daquelas situadas no interior do Rio Grande do Norte. A informação tem como fonte o titular da Coordenadoria de Administração Penitenciária Estadual, José Olímpio da Silva, que revelou existirem em todo o RN 5.767 presos se espremendo em apenas 2085 vagas disponibilizadas pelo setor.
"Está tudo lotado e a tendência é piorar enquanto novas vagas não forem criadas com a construção de outras unidades e o fim das obras naquelas que foram iniciadas", prevê o agente penitenciário. Dentre aqueles que surgem como bálsamo para a ferida social que se tornou a superlotação de cadeias públicas, presídios e centros de detenção provisória, estão o prédio da antiga Delegacia Especializada na Defesa da Propriedade de Veículos e Cargas (Deprov), na zona Norte da capital, que vem sendo preparado para receber 100 presos provisórios. O novo pavilhão de Alcaçuz cuja estrutura deve permitir a absorção de mais 402 presos condenados deve, à curto prazo, ser um paliativo para o problema mencionado.
A situação apresentada por Olímpio na ponta do lápis, é assustadora. Somente nos Centros de Detenção Provisória da Grande Natal existem hoje 874 pessoas em conflito com a lei à espera de julgamento, quando o limite de vagas corresponde a 355 lugares.
Delegacias
Não há solução em curto prazo anunciada. Na manhã desta quarta-feira (07) a delegacia de Plantão da zona Sul tinha 53 presos custodiados entre uma cela na qual estavam 32 presos - espaço onde caberiam apenas 10 pessoas - e o solário, no qual 21 homens esperavam por uma decisão judicial que determinasse um novo endereço. A situação da DP é precária há vários meses. A TRIBUNA DO NORTE já publicou várias reportagens mostrando detentos presos a motocicletas ou em corredores por falta de vagas. E nesse período ,a situação só piora.
Mesmo diante do desconforto e risco, aqueles profissionais que lidam diretamente com tal cenário - os policiais civis em desvio de conduta, uma vez que alguns atuam como agentes penitenciários - aceitam falar sobre o assunto sob a condição de ter a identidade preservada. Um agente da polícia Civil relata que a presença dos detentos no local prejudica o serviço prestado a população, uma vez que a atenção dos que ali permanecem em serviço tem de ser dividida entre presos e os que buscam a delegacia. "Isso aqui é uma bomba relógio prestes a explodir", ilustrou o APC.
Alex Régis...ontem, por falta de espaço na cela, 21 homens dividiam o espaço
Sobre o tempo de permanência daqueles que "repousam" naquela carceragem, o policial admitiu que alguns chegam a passar mais de 30 dias à espera do recambiamento para uma unidade prisional.
Já na delegacia de Plantão da zona Norte, mesmo havendo uma relativa superlotação - considerando que o "xadrez" comporta no máximo duas pessoas e 10 estão alojadas -, o delegado que estava de serviço, Jairo Maia, afirma que a situação não é das piores, uma vez que a permanência deles não é prolongada. "Constantemente os presos são transferidos para outros locais. E a entrada de preso aqui é sinal de que a polícia está trabalhando. Nossa parte está sendo feita. Agora, precisa que existam vagas para esse pessoal", avaliou. "O ideal seria uns 10 agentes para a gente fazer um serviço de qualidade", avaliou o DPC.
Precariedade preocupa familiares
Policiais e presos não são os únicos personagens que parecem viver em constante corda bamba. Neste espetáculo, os familiares também expressam a dificuldade de lidar com a permanência de seus entes queridos em ambientes inadequados. Na delegacia de Plantão ZS, a doméstica de 53 anos conta o martírio pelo qual tem passado desde que, há duas semanas, Marco da Silva Santos, 34, foi preso acusado de depredação de patrimônio.
Segundo ela, o filho é doente mental e fazia alguns dias que não tomava o medicamento receitado. Aliado a falta do remédio, ele também ingeriu bebida alcoólica, fato que o teria levado a quebrar o vidro de um carro, no Alecrim. "Meu filho quebrou esse vidro porque o homem passou fazendo sinal feio pra ele com o dedo", narrava ela entre lágrimas expondo não ter os R$ 500 de fiança para garantir a liberação do parente. "E ele fica no meio dessa 'ruma' de homem. É um perigo muito grande", aponta a senhora.
Arma
Ainda na mesma unidade, quem também fala das dificuldades e temores pelos quais tem passado é a esposa de Alexandro Mathias, 23, preso em 2008 por porte ilegal de arma. "Ele ficou preso no CDP da Ribeira uns quatro meses, em 2008, e depois foi liberado.
Mas ontem (06) ele se apresentou porque tinham mandado uns documentos e ele não tinha se apresentado ao Juiz. Mas nunca ficou claro que era pra ele ir de novo, porque nós não recebemos esse papel. O documento que eu tenho é dizendo que ele tá no regime semi-aberto", contou ela parte da história do esposo. A jovem disse ainda que o Alexandro é o provedor da família e que as duas filhas, uma de 11 meses e a outra com sete anos, estão sofrendo com a ausência do pai e do dinheiro que ele levava para casa.
http://tribunadonorte.com.br/noticia/sem-vagas-na-cela-delegacia-improvisa-area-para-presos/195142
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