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terça-feira, 26 de abril de 2011

Ensaio Um olhar sobre a literatura nonsense inglesa: a Alice que se disfarça de possível.


Bruno Coriolano de Almeida Costa[i]
 “Alice estava começando a se cansar de ficar ali sentada ao
lado da irmã no barranco e não ter nada que fazer: uma
ou duas vezes espiara o livro que sua irmã estava lendo,
mas não tinha figuras nem diálogos, “e para que serve um
livro”, pensou Alice, “sem figuras nem diálogos?”

Um dos clássicos mais aclamados da literatura mundial, Alice no país das maravilhas escrito pelo matemático Charles Dodgson, sobre o pseudônimo de Lewis Carroll oferece ao público, diversas temáticas que muitas vezes beiram o absurdo.
Para sermos mais claros e tecnicamente mais corretos, devemos nos referir à obra como sendo representante do nonsense. Mas de que se trata esse termo? O nonsense não é algo falso. Mas também não é verdadeiro e nem pode ser. Na verdade, trata-se de uma proposição absurda que se disfarça de possível.
Erro, ilusão, loucura, fuga da realidade, o jogo de palavras e aquilo que não pode ser são alguns dos assuntos expostos na obra da menina que cai na toca do coelho para descobrir um mundo novo e tão irreal e fantasioso que permeia na imaginação de muitas crianças.
Escrito há dois séculos, Alice no país das maravilhas surgi como fruto da imaginação de Charles Dodgson às margens de um rio, quando o mesmo costumava contar estórias de uma menina em um mundo fantasioso e diferente do vivido pelo autor.  A mesma começa com Alice (provavelmente nome dado para homenagear a menina que costumava ouvir as estórias contadas por Carroll) seguindo um coelho de colete e relógio. É ai que temos a primeira cena sem sentindo, nonsense. Ora, como pode um coelho usar colete e relógio? Qual seria a preocupação de um animal com o tempo? O certo é que a menina vai parar em uma dimensão onde tudo é surreal, povoado por criaturas inusitadas que só poderiam existir em sonhos. Além do coelho que parece estar sempre atrasado (representação do homem moderno?), existe o gato cheshire, que tem o poder de aparecer e desaparecer quando quiser. Temos também a presença do chapeleiro maluco que está perpetuamente na hora do chá e foge da rainha de copas.
 O que essa obra nos mostra é a evidencia do absurdo, do sem sentido. Mas essas proporções parecem estar presentes na nossa vida o tempo todo. É só observar que nossas mães, quando ainda somos pequenos, tentam nos convencer a comer mais para podermos crescer. Isso não seria ilógico? Não. Não é absurdo afirmar que alguém cresce ou diminui tão logo coma ou deixe de comer. Não há dúvidas que o alimento é fundamental para o crescimento.  É o que acontece em Alice quando ela cresceu e diminuiu, coube e descoube nas medições de tal mundo apenas comendo um cogumelo. Claro que estamos falando de nonsense. 
Até mesmo confusões e mal-entendidos lingüísticos corriqueiros estão presentes na obra de Carroll quando lemos “Ele está matando o tempo!” (cap. 7), de fato, não se pode matar o tempo já que ele não é um ser que pode morrer. Assim, temos mais uma vez o uso daquela proposição absurda que se disfarça de possível.
O leitor mais atento já deve ter notado que não dispomos de muito mais tempo para falarmos mais detalhadamente sobre o assunto. O que percebemos que o nonsense não é uma falsidade e ainda faz uso do disfarce da realidade. Falso é alguma coisa que dizem que aconteceu sem ser verdade. Nonsense é algo que nem é, nem pode acontecer.
O que se aprende na obra Alice no país das maravilhas é a percepção do que há de nonsense no mundo dos adultos. Afinal, você, depois de ler esse ensaio, já não cabe mais nas roupas que cabia antes. Lembre-se que “a fantasia não é exatamente uma fuga da realidade. É um modo de entendê-la.”




[i]  Licenciatura em Letras - Língua Inglesa e suas respectivas literaturas.
Especialista em língua Inglesa. Professor de inglês do IFRN & SENAC. 
Email: brunocoriolano@zipmail.com.br

Um comentário:

Anônimo disse...

Foram necessários três livros e dezessete textos, para que finalmente, ele compreendesse o sentido do irreal; aquela pequena percepção, lá no fundo, que nos diz respeito a uma verdade abstrata e tão somente imaginária, porém, demasiada divertida e apaixonante, seja talvez este o mesmo princípio do amor puro, por diversas vezes, descrito, contudo, por nenhuma delas sentido. Foi neste instante que ele, com toda sua desenvoltura, que lhe era peculiar, levantou-se e mirou a tela do computador, certamente ele não deveria estar lá, mas lá estava sem dever estar. Ajeitou por fim a gola levantada do paletó; era um lagarto de paletó. Fitou vagarosamente o rabo, o mesmo balançava, destemidamente, a tentar apanhar uma chávena de chá. Bebericou o líquido e em tom de surpresa desabafou melancólico, “Alice, como eu amo Alice, mas porque Alice” parou, então inesperadamente prossegui com uma alínea “em que tom, teria eu, dito Alice?! Oh, para que saber, tenho de ir, não estou, em total, pronto para divagar comigo, sempre termino por vencer-me”.

Adorei o texto; ;)