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segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Quando prender é o menor dos problemas

A sensação que a população tem do aumento da criminalidade e da impunidade não é à toa. No Rio Grande do Norte, a Polícia Civil, responsável pelas investigações dos crimes ocorridos no estado, tem um déficit de 1.600 homens, 44 comarcas estaduais não contam com a presença da polícia, algumas delegacias estão sem computador e acumulando presos por falta de presídios, viaturas estão quebradas, e há profissionais precisando de qualificação e até sem armas. Enfim, são muitos os problemas que impossibilitam a elucidação dos crimes. Porém, mesmo que toda essa estrutura funcionasse, o que pode comprovar muitos dos vestígios apontados pela Civil são os laudos produzidos pelo Instituto Técnico e Científico de Polícia (Itep-RN), órgão que ainda tem máquinas de escrever e que na última semana esteve sem telefone e água. O resultado do abandono da segurança pública é que cerca de 70% dos inquéritos que chegam ao Ministério Público não tem como apontar indícios de autoria ou provas suficientes para incriminar um acusado.


Falta de infraestrutura nas delegacias distritais congestionam a Plantão Zona Sul Foto:Carlos Santos/DN/D.A Press
Somente uma manhã foi suficiente na Delegacia de Plantão da Zona Sul para constatar o caos de quem precisa da polícia e de quem trabalha nela. Na passagem de um plantão para outro, por volta das 7h30, começa o movimento. Os familiares dos presos querem entregar o café da manhã. A alimentação trazida pela família vai desde shake para emagrecer até o conhecido pão com café. Neste dia, 18 homens esperavam em uma cela por uma transferência para o sistema penitenciário, que não tinha vaga. Os dois agentes que ficam no atendimento precisam verificar a comida (como se estivesse em um presídio), atender a população que precisa fazer Boletim de Ocorrência (BO) e receber os crimes em flagrante trazidos pela Polícia Militar. Em certo momento, 20 pessoas esperavam atendimento na recepção da delegacia ao mesmo tempo.

Uma viatura da PM de Parnamirim ficou três horas parada no local esperando o andamento de um caso em que a filha ameaçou bater na mãe. Os policiais esperaram a mudança do Plantão, os atendimentos que tinham chegado primeiro e quando foram recebidos, a idosa não prestou queixa contra a filha. "Esse carro poderia está circulando na área dele", criticou o PM. A demora também ocorreu em razão do despreparo de um dos agentes da Civil. Ele demorou mais de 30 minutos para digitar um BO de poucas linhas, sem contar os erros de informação.

Um dos primeiros problemas que lotam as Delegacias de Plantão é o fechamento das delegacias de bairro, as chamadas distritais. Com elas fechadas a partir das 18h, todas as ocorrências depois desse horário são encaminhadas para a Plantão Zona Norte e Zona Sul, desde roubo de celular até homicídios. Antes de fechar, as distritais funcionavam com apenas um agente, o que também impossibilitava o atendimento das ocorrências. A Delegacia Geral de Polícia (Degepol), em razão da falta de policiais, decidiu deslocar os agentes que trabalhavam nos bairros e criar a nova Delegacia de Plantão da Zona Oeste, que ainda não está funcionando.

Segundo os policiais, as dificuldades na investigação começam também em razão deste fechamento. Apesar da ocorrência ser feita na Plantão, quem vai investigar o caso é a delegacia do bairro. Por exemplo, um homicídio que aconteceu na madrugada, terá a presença do delegado da Plantão no local, mas quem vai investigar é o delegado de uma distrital, onde o caso aconteceu. Esse espaço de tempo é alvo de críticas por parte dos policiais e delegados. O passar das horas termina resultando na perda de vestígios do caso. Na Delegacia de Plantão, quando um homicídio acontece, e o delegado precisa ir ao local do crime, a delegacia fica desfalcada. A reportagem presenciou um plantão em que a equipe tinha três agentes de férias, além de um que faltou e não deu satisfações. Atendendo ao pedido do chefe de investigação, um colega agente veio substituir o faltoso.

A Delegacia de Plantão é considerada melhor em estrutura se comparada as delegacias de bairro. Apesar de ter computadores funcionando, um privilégio diante de muitas, um dos membros da equipe de 11 pessoas está sem arma, são apenas dois coletes de proteção, alojamento com colchões que deveriam estar no lixo, portas sem fechaduras e o problema mais latente: sujeira. Da cela dos presos, historicamente conhecida pelo acúmulo de lixo, até a recepção da delegacia, o volume de sujeira é grande. O banheiro que está disponível para o público é inutilizável. 



http://www.diariodenatal.com.br/2011/08/07/cidades1_0.php

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