Dentro da literatura nacional, não é raro que as peças teatrais sejam esquecidas pela maioria dos leitores, já que carecemos de boas histórias. Porém, no ano de 1959, Dias Gomes escreveu aquela que pode ser considerada a maior pérola do teatro nacional: O Pagador de Promessas.
Composta por três atos, a obra conta a história do obstinado Zé do Burro, personagem que retrata fielmente alguns aspectos do povo nordestino, como a fé inabalável e a coragem para fazer coisas consideradas impossíveis, no caso do protagonista, cumprir uma promessa feita á Santa Bárbara.
Após fazer a promessa, num terreiro de Candomblé para a Santa, Zé do Burro não tarda em receber uma “graça”. A cura do seu inseparável burrinho de estimação, e por isso decide levar uma cruz “como a de Jesus Cristo” até a igreja de Santa Bárbara, a sete léguas de onde morava com Rosa, a sua resignada esposa.
Só que o protagonista não esperava que a intolerância do Padre Olavo, responsável pela igreja onde ele pretendia pagar a sua promessa, fosse o maior empecilho, já que, nas palavras do Padre, não seria permitido que uma promessa feita a Santa num terreiro de Candomblé para a cura de um burro fosse paga na Igreja Católica.
Com o desenrolar da história somos apresentados a vários personagens como os oportunistas Bonitão e o repórter, que tiram “vantagem” de toda a situação, dizendo para o protagonista que estão sensibilizados e que vão ajuda-lo na sua saga. Mas após algumas linhas da história, tomamos a ciência que de que nada vai acontecer em favor de Zé do Burro ou de Rosa. Em parte por culpa do repórter e de Bonitão, que chamam a polícia para prender Zé do Burro, causando uma briga séria e que acaba com um disparo e com a morte do protagonista da história.
A obstinação de Zé do Burro, a intolerância do Padre Olavo, a resignação de Rosa, o oportunismo de vários personagens que se aproveitam da ingenuidade e da situação de Zé, a religião e a religiosidade de um povo sofrido são peças chaves para o entendimento da peça e de inúmeras características do ser humano, apresentadas pela magistral peça de Dias Gomes.
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